13 de maio de 2009

O NEVOEIRO (The Mist,2008)


Frank Darabont tem um gosto especial por obras de Stephen King. Mas até então suas adaptações do autor para o cinema estavam centradas em dramas, como os excelentes “Um Sonho de Liberdade” (1994) e “À Espera de Um Milagre” (1999).

É notório que Stephen King se destaca na literatura de horror justamente pela forma como delineia o perfil psicológico de seus personagens, fazendo com que o leitor seja capaz de compreender seu comportamento e reações diante das situações mais fantásticas (e implausíveis).

Em “The Mist” o diretor se utiliza dessa característica ao adaptar o conto de uma forma realista (mesmo com boa dose de absurdo, lugar comum nas obras de King), porém bastante densa, profunda e apavorante.

Sem rodeios, em quinze minutos o filme apresenta a situação à qual os personagens, e por tabela os espectadores, estarão sujeitos: o horror. Mas aos poucos o fantástico cede espaço para o estudo de comportamento e a análise sobre ética, religião, autoridade e, sobretudo, o desespero.

O pôster diz: “Fear changes everything” (O medo muda tudo). Exatamente o que se demonstra com brilhantismo e crueza, durante a trama. Especialmente no final (não se preocupe, não vou contar!), irônico, amargo e extremamente corajoso. Espectadores descrentes se perguntam se tudo aconteceu ou se não poderia ser apenas um sonho, um pesadelo absurdo e cruel. Mas está tudo ali na tela, não há alívio.

A recusa inicial em assimilar ou digerir o desfecho está intimamente ligada ao propósito do filme: o questionamento da fé e do comportamento humano numa situação de desespero, na qual os valores morais são rapidamente rejeitados e o caos se instala.

Em meio ao fanatismo religioso e ao desespero surge a dúvida: qual seria a verdadeira ameaça? As criaturas monstruosas na neblina ou as pessoas até então ditas civilizadas? Há indícios espalhados por todo o filme que levam ao questionamento da fé, do poder que reside numa crença. Seja a fé religiosa ou a fé na humanidade.

O que presenciamos seria o resultado da descrença, afinal?

A seqüência final deveria entrar para a história do cinema como um dos maiores socos no estômago que já passou ileso pelo “controle de qualidade” dos produtores em Hollywood – aqueles sempre preocupados com o “apelo comercial” das obras. Anticlimática, profundamente triste e frustrante. Mas genial.

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