Todo mundo já assistiu algum filme desses em que nos angustiamos, nos contorcemos e somos destruídos a medida que os protagonistas (nossos heróis) trilham caminhos tortuosos que os levam à ruína absoluta. Ao término da sessão nos encontramos arruinados e, regra geral, proferimos a frase clássica: EU NUNCA MAIS QUERO VER ESSE FILME!
Mas a verdade é que a frase é mentirosa (ou não, como diria Caetano), ao menos em parte, pois embora o filme tenha significado um martírio, é impossível deixar de reconhecer seus méritos como obra de arte, sua beleza, poesia ou simplesmente originalidade.
Tenho um conceito para esse tipo de filme: é o que chamo de “filme-flagelo”.
No fim das contas ele vai acabar parando em nossas prateleiras de filmes, mesmo que não tenhamos a coragem para rever. Mas é quando um visitante fixa os olhos sobre aquele DVD que nós exclamamos: “Não acredito que você nunca viu esse filme!”. A frase funciona como uma deixa, uma artimanha para que possamos nos submeter novamente àquela obra (e de quebra ainda termos o prazer um tanto sádico de analisar as reações do pobre diabo que serviu de desculpa para o nosso desejo reprimido de reviver a malfadada experiência).
Há três exemplos que encaro como clássicos do gênero (e que se encontram na minha estante, é claro!). Eu os classifico da seguinte forma:
Dançando no Escuro
Nível de angústia: Máximo!!!
Desavisados podem entrar em coma ou tentar cortar os pulsos após uma sessão desta obra de Lars Von Trier. Há risco de desidratação, pois é absolutamente impossível não se desmanchar em lágrimas, soluços e às vezes gritos de revolta. Impossível não se surpreender com a atuação da Bjork (e não chegar à conclusão de que ela é mesmo de outro planeta). Quase impossível conter o impulso de participar dos belos números musicais (lindos, criativos, estranhos e angustiantes). É pouco provável que ao final alguém queira rever o filme, e menos provável ainda que alguém não sente para rever um número musical que seja (no meu caso é sempre o do trem!).
Réquiem para um Sonho
Nível de angústia: Exemplar.
A forma mais segura de assistir à obra de Darren Aronofsky é embrulhar-se em uma camisa de força. Uma ode à autodestruição pelo vício (todas as formas de vício possíveis). O rítmo é frenético, videoclipado e melodramático (literalmente, pois a música acompanha toda a construção do clima e amplifica o efeito massacrante do drama). Ao final da projeção, a desesperança: não resta espaço para um fio sequer de esperança, em nada, nem para ninguém. Mas está mentindo quem diz que não sente uma agitação ou não se sente instigado ao ouvir os acordes da magnífica trilha sonora.
Meninos não Choram
Nível de angústia: Suficiente...
Em poucas palavras: Triste. Trágico ao extremo. Hillary Swank arrasa. A clássica música do “The Cure” toca nos créditos, mas não cura coisa alguma, na verdade cutuca mais fundo a ferida já aberta.
Claro que há muitos outros exemplos do gênero, mas é preciso não confundir o trauma que significa assistir um filme-flagelo, com a melancolia ou a desilusão que resultam de outros gêneros mais comuns no mercado cinematográfico, que mesmo tristes, melancólicos ou trágicos (geralmente em seus desfechos) acabam se enquadrando em outras categorias que devo comentar em momento oportuno.
4 comentários:
Olá gato!
Que saudades... Vc acredita que não assisti nenhum dos três filmes que vc citou... ninguém merece... Julho está aí e vou assistir os três... e adivinha com quem??? rs...
Beijocas!
MEU DEUS!!!! EU SOU MEGA MASOQUISTA ENTÃO... ADORO OS TRÊS FILMES... E ASSISTO EM PROBLEMAS!!!
NO MEU TOP 3 ESTARIAM:
1) ÁSIA VIOLENTA
2) REVOLUÇÃO DOS BICHOS (amo o livro... mais o filme me deixou com estômago embrulhado)
3) OLEANA
Adoro os três. Excelente texto! Bjs!
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